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Escola de música em terreiro na Baixada Fluminense mistura candomblé e heavy metal

Foto do escritor: AdmCultAdmCult

Quem poderia imaginar o som que resulta da junção do agogô e da flauta? Ou do atabaque com o saxofone? Em uma escola de música em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, instrumentos musicais das culturas africana e europeia se misturam. Não só eles. No espaço, há diversidade de pessoas, de histórias e de sonhos. A ideia surgiu em 2017, quando o professor de Física Victor Bruno Barbosa dos Santos, de 31 anos, decidiu unir suas duas maiores paixões: a educação e a música.


— Sou professor do ensino médio desde 2005. Nesse mesmo período, comecei a tocar fora, em bandas, e me aproximar da música, sem ser aquela de cerimônias religiosas. Chegou um momento em que me senti pressionado. As pessoas com as quais eu trabalhava em escola e na música queriam que eu decidisse se seria músico ou professor. Gosto muito de dar aulas, de trabalhar com educação, e de música. Então, tentei unir esses dois — lembra Victor.


Nascia o Curso Livre de Educação Musical Criativa e Coletiva, no bairro São Bento, bem no terreiro de candomblé da avó paterna de Victor. Daí o nome popular da escola ser Barracão, nome pelo qual os terreiros também são chamados. A escola marcou a volta de Victor ao bairro e seu reencontro com o passado e suas raízes.


— Meu primeiro contato com a música foi no barracão da minha avó. Os primeiros instrumentos que toquei com 3 anos de idade foram os atabaques do barracão. Foi com eles que, quase 30 anos depois, eu comecei oficialmente a dar aulas de música. A escola também foi a volta para o lugar onde nasci e fui criado — afirma, muito orgulhoso, o professor.


Quando reencontrou os antigos amigos, colocou todos para tocarem na escola. Por estar no espaço de um terreiro de candomblé, a mistura de ritmos ocorreu naturalmente. Victor queria mesmo unir a cultura africana à realidade cultural dos jovens do bairro:


— A ideia é misturar os ritmos e coisas que estejam dentro da realidade deles (funk, reggae, rock) com estudo de uma musicalidade que já existe e tem uma história. A música africana está bastante presente no popular carioca. Toda a minha história e a história do projeto com o terreiro influenciou essa mistura.


Ao longo de 2018, no fim das aulas, Victor passava o chapéu para aqueles que pudessem contribuir com a estrutura do espaço, que também era custeada por ele com verba própria. Em 2019, através de uma vaquinha virtual e com o cachê de algumas apresentações musicais da Banda Barracão — formada por alguns alunos da escola — foi arrecadada verba para a obra num terreno anexo ao terreiro.


Para o ano que vem, já estão previstas, no novo espaço, aulas regulares de instrumentos de sopro, percussão e corda, além de voz, teoria musical, preparatório para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Será cobrado um valor de R$ 30. O espaço terá ainda assistência social e também psicológica.


— A galera é muito capaz, potente, criativa, mas esbarra em um problema que é a autoestima. Não acreditam na capacidade que têm de fazer as coisas. Para mim, é um problema social. As pessoas não veem um futuro possível. E isso tem mudado. O Barracão modificou muito a autoestima dessa galera. Esse tem sido o seu legado — diz.

Para a auxiliar de supervisão de vendas Ana Quitete, de 22 anos, a escola funciona como uma terapia, desde que começou a frequentar as aulas, há um ano e meio.


— Quando cheguei, Victor pegou a parte de uma bateria que estava quebrada e disse para eu tocar. Fiquei tocando esse instrumento por um mês. Também foi ele quem conseguiu bolsa de estudo nas oficinas da Orquestra Voadora. Lá, bolsistas ganham o instrumento para praticar. Foi, então, que ganhei meu primeiro trompete. Minha paixão por música foi crescendo e eu quis evoluir. Depois, comprei um saxofone soprano — explica Ana. — O Barracão tem sido um refúgio para mim. Lá dentro, a gente lida com pessoas que já passaram por abuso e agressão. O Barracão é terapia com música e amor.


A proposta da escola encantou a ialorixá Gilda Correia Vieira, de 63 anos. Foi por isso que ela, avó de Victor e zeladora de santo do terreiro Ilê Axé Odé Oran Caruanã, não mediu esforços para que a ideia saísse do papel:


— Foi muita surpresa, mas fiquei feliz quando meu neto disse que abriria a escola de música para todos, sem importância de idade. Isso é motivo de orgulho. Até eu vou ser aluna e aprender guitarra.


A escola conta com uma rede de amigos e apoiadores. Entre eles, está a produtora cultural e MC Alexandra Mércia, de 23 anos, que conheceu a escola através do coletivo cultural Fala, que desenvolve atividades culturais e artísticas no bairro.


— São Bento é um bairro histórico, que tem ancestralidade muito rica e história muito linda. Essa escola de música acontecer nesse bairro impacta diretamente não só na minha vida e das pessoas do bairro, mas na cidade — afirma, orgulhosa, Alexandra.


Informações sobre a escola pelos telefones (21) 974457526 ou (21) 974072377, e pelo email barracao.grupo@gmail. O Barracão também está nas redes sociais: @barracao.grupo.




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